Pânico: No Limite do Medo

Alguma vez sentiu o coração a disparar sem motivo aparente? Ficou sem ar, com tonturas, ou com a sensação de que ia desmaiar? Teve medo de estar a ter um ataque cardíaco ou de perder o controlo? Estes são sintomas comuns de um ataque de pânico, uma experiência muito mais comum do que se pensa. Cerca de 12% das pessoas já teve, pelo menos, um ataque de pânico ao longo da vida. Apesar de as causas não serem totalmente conhecidas, há fatores de risco associados: traços de personalidade como o neuroticismo, sensibilidade à ansiedade, trauma, níveis elevados de stress e abuso de substâncias.

Como Reconhecer um Ataque de Pânico?

O que distingue um ataque de pânico de outras crises de ansiedade é a intensidade do medo e a sensação de que algo catastrófico está prestes a acontecer. Pode surgir a crença de que se vai morrer, perder o controlo ou enlouquecer. Quando o medo de ter novos ataques leva a evitar lugares ou atividades (como o exercício físico) durante, pelo menos, um mês, podemos estar perante uma perturbação de pânico.

O Que Está a Acontecer no Nosso Corpo?

Para compreendermos as crises de pânico, é importante entender os três sistemas emocionais que regulam o nosso organismo:

  1. Sistema de Defesa/Ameaça: Focado na deteção de perigos e na procura de proteção, ativa respostas como a luta, fuga ou imobilização. Este é o nosso sistema predominante e é responsável por emoções como a ansiedade, o medo e o pânico.
  2. Sistema de Procura: Mobiliza para a busca de recursos e proporciona afeto positivo. Está ligado à realização de objetivos, lazer e recompensa, ativando emoções como alegria, orgulho e desejo.
  3. Sistema de Tranquilização/Apaziguamento: Promove a conexão com os outros, gerando sensações de calma, segurança e contentamento. Está associado à liberação de oxitocina e opiáceos naturais que reduzem o stress.

O sofrimento psicológico, incluindo o pânico, surge frequentemente do desequilíbrio entre estes sistemas. Normalmente, o Sistema de Defesa está sobreativado, enquanto o Sistema de Tranquilização fica subativado. O pânico é, assim, um falso alarme: o perigo não é real, mas o corpo reage como se fosse.

Porque É Que Isto Acontece?

Experiências negativas anteriores, como traumas ou perdas significativas, aumentam a sensação de vulnerabilidade e falta de controlo, tornando o sistema de alerta mais sensível. É como ter um detetor de fumo que dispara com o fumo das torradas – um alarme que reage em excesso.

Como Gerir o Pânico?

A chave está em equilibrar estes sistemas emocionais. Intervenções baseadas nas terapias cognitivo-comportamentais de terceira geração, como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), ajudam a desenvolver a flexibilidade psicológica, ensinando a lidar com as emoções sem as evitar ou temer. O mindfulness é uma ferramenta essencial neste processo, permitindo-nos observar as sensações físicas e emocionais sem julgamento, reduzindo o medo de sentir.

A compaixão, tanto por nós mesmos como pelos outros, é outro pilar fundamental. Desenvolver uma atitude de gentileza e compreensão em relação às nossas experiências internas é o antídoto natural para o pânico.

Porque é possível viver sem ser refém do medo, recuperando o controlo e a serenidade.

Juntos, passo a passo, rumo à mudança…

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Experiência profissional

A Maria João Varela é coordenadora clínica da Psicoflex. Tem ampla experiência profissional com múltiplas populações, em problemáticas tão diversas como em perturbações de sono, de humor, de ansiedade e stress, tais como Insónia, Depressão, Perturbação de Pânico, Ansiedade Social e de Desempenho, Stress, Trauma, Luto e adaptação à doença.

Ao longo do seu percurso profissional tem realizado intervenção em diversas valências, incluindo, no início do seu percurso profissional em contexto de Cuidados de Saúde Primários, posteriormente também em contexto de Unidade Socio-Ocupacional (USO) com utentes com perturbação mental grave (psicose, esquizofrenia, doença bipolar, perturbações de personalidade), com idosos em contexto de residência sénior e com crianças em contexto educativo. Paralelamente, tem realizado também intervenção clínica em prática privada, tem conduzido diversas intervenções em grupo em múltiplas problemáticas e tem ainda dinamizado cursos de formação em práticas meditativas Mindfulness, presencialmente e online.

Uma experiência clínica ampla e diversificada constitui uma mais-valia, permitindo:

  • um forte enriquecimento da compreensão clínica de cada caso
  • uma melhor capacidade de adaptação a diferentes necessidades e contextos da pessoa que procura acompanhamento psicológico
  • o desenvolvimento de uma visão abrangente do ser humano
  • o desenvolvimento de respostas diferenciadas e mais ajustadas às especificidades de cada caso, potenciando a eficácia clínica das intervenções levadas a cabo