Como lidar com a incerteza?

Sente que o mundo está em constante mudança e nunca há tempo para respirar?

Já notou como a incerteza e o medo podem deixá-lo mais vulnerável e o predispõem a aceitar condições desfavoráveis?

Questiona-se sobre o impacto deste ritmo de vida na sua saúde e bem-estar?

A cultura tóxica

Vivemos numa época em que a mudança constante não é apenas normal – é esperada. O mercado de trabalho é apenas uma das áreas onde a imprevisibilidade reina, mas esta lógica de instabilidade estende-se a quase todos os aspetos da vida moderna: desde a tecnologia que avança a um ritmo vertiginoso até às redes sociais, que exigem atenção contínua e rápida adaptação.

Embora a mudança possa trazer inovação e progresso, também explora uma das nossas necessidades mais básicas: a de segurança. Quando nos sentimos inseguros ou assustados, estamos mais predispostos a aceitar condições desfavoráveis, tornando-nos mais fáceis de manipular. Mas para compreender melhor este impacto, precisamos de olhar para o nosso cérebro e a forma como gere a incerteza e o stress.

O cérebro como gestor da segurança

O cérebro humano é, antes de tudo, um gestor de recursos. Ele faz previsões sobre o que o corpo vai precisar – energia, descanso, defesa contra ameaças – e ajusta-se de acordo com essa informação. Quando as suas previsões são precisas, o cérebro poupa energia e mantém o corpo equilibrado. No entanto, em ambientes incertos, esta gestão torna-se muito mais custosa.

A incerteza ativa o sistema de ameaça do cérebro, mantendo-nos num estado constante de alerta e stress. Afinal, se não sabemos com o que contar a seguir como nos podemos preparar? Embora a curto prazo este estado nos possa ser útil porque prepara-nos para reagir rapidamente a perigos, a longo prazo, desgasta o sistema e esgota os nossos recursos. É como viver com um alarme que nunca se desliga, consumindo recursos valiosos e deixando-nos exaustos e sobrecarregados pelo stress acumulado.

A cultura da mudança constante e a exploração da insegurança

Ao longo da evolução, o cérebro humano desenvolveu-se para valorizar a segurança e a previsibilidade. Em sociedades ancestrais, estas características eram essenciais para a sobrevivência. Hoje, no entanto, vivemos numa cultura onde a incerteza se tornou uma ferramenta de exploração.

Seja no trabalho, onde contratos precários e mudanças frequentes são a norma, ou na vida pessoal, onde somos bombardeados por mensagens de que precisamos de ser melhores, mais rápidos e mais capazes, a insegurança tornou-se um mecanismo de controlo. Quando estamos assustados ou sob stress constante, é mais provável que aceitemos condições injustas – porque o medo de perder o pouco que temos nos paralisa.

O impacto desta cultura na saúde mental

Esta constante mudança, insegurança e stress têm consequências profundas. Num contexto de trabalho precário, por exemplo, o medo de perder o emprego ativa o sistema de ameaça de forma crónica. O mesmo acontece em relações sociais instáveis, onde a necessidade de aprovação nos mantém presos a ciclos de validação externa.

E não se trata apenas de adultos. As crianças que crescem em ambientes onde a incerteza reina – com cuidadores inconsistentes ou imprevisíveis – enfrentam desafios semelhantes. O seu cérebro, em desenvolvimento, luta para criar padrões de previsibilidade e quando não consegue, isso leva a dificuldades na regulação emocional e a uma maior vulnerabilidade ao stress ao longo da vida.

Como contrariar os efeitos da incerteza e do stress

Embora não possamos controlar tudo à nossa volta, existem estratégias para minimizar o impacto de uma cultura de constante mudança:

  1. Reconheça as mensagens culturais

Esteja atento à forma como a cultura da insegurança e do stress pode influenciar as suas decisões. Questionar as normas pode ser o primeiro passo para recuperar o controlo.

  • Crie âncoras de previsibilidade

Mesmo em ambientes caóticos, procure criar rotinas simples e consistentes. Pequenas âncoras, como horários regulares, podem ajudar o cérebro a poupar energia e reduzir o stress.

  • Desenvolva a autocompaixão

A consciência de que não está sozinho nestas lutas é transformadora. Somos todos vulneráveis à insegurança e ao stress, mas reconhecer isso pode ajudar a reduzir expectativas irrealistas e o medo.

  • Aprenda a ajustar as suas previsões

Se o cérebro é um simulador que nem sempre reflete a realidade, podemos ajustá-lo. Técnicas como mindfulness ou aceitação ajudam quebrar padrões automáticos de pensamento e a minimizar o impacto das ameaças percebidas e do stress.

Na Psicoflex, ajudamo-lo a compreender e desafiar as histórias que a cultura da incerteza e do stress lhe conta, para que possa viver com mais segurança, alinhado com os seus valores e focado no que realmente importa.

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Experiência profissional

A Maria João Varela é coordenadora clínica da Psicoflex. Tem ampla experiência profissional com múltiplas populações, em problemáticas tão diversas como em perturbações de sono, de humor, de ansiedade e stress, tais como Insónia, Depressão, Perturbação de Pânico, Ansiedade Social e de Desempenho, Stress, Trauma, Luto e adaptação à doença.

Ao longo do seu percurso profissional tem realizado intervenção em diversas valências, incluindo, no início do seu percurso profissional em contexto de Cuidados de Saúde Primários, posteriormente também em contexto de Unidade Socio-Ocupacional (USO) com utentes com perturbação mental grave (psicose, esquizofrenia, doença bipolar, perturbações de personalidade), com idosos em contexto de residência sénior e com crianças em contexto educativo. Paralelamente, tem realizado também intervenção clínica em prática privada, tem conduzido diversas intervenções em grupo em múltiplas problemáticas e tem ainda dinamizado cursos de formação em práticas meditativas Mindfulness, presencialmente e online.

Uma experiência clínica ampla e diversificada constitui uma mais-valia, permitindo:

  • um forte enriquecimento da compreensão clínica de cada caso
  • uma melhor capacidade de adaptação a diferentes necessidades e contextos da pessoa que procura acompanhamento psicológico
  • o desenvolvimento de uma visão abrangente do ser humano
  • o desenvolvimento de respostas diferenciadas e mais ajustadas às especificidades de cada caso, potenciando a eficácia clínica das intervenções levadas a cabo